Investir em inovação e parcerias

Quais são as melhores estratégias para encorajar o «pensamento diagnóstico» na sociedade, para garantir que todas as pessoas tenham acesso igual às mais recentes tecnologias e serviços de diagnóstico?

A inovação dos testes de diagnóstico é fundamental para facilitar a exatidão e a disponibilidade atempada das informações, o que, em última análise, melhora os percursos dos doentes e os respetivos resultados de tratamento. Os progressos em matéria de tecnologia, inteligência artificial e análise de grandes volumes de dados estão a criar novas oportunidades para informar, personalizar e melhorar a gestão dos tratamentos e os cuidados. Mas a inovação no diagnóstico é mais do que soluções técnicas e equipamentos. A aquisição e o acesso às tecnologias mais recentes também são uma parte importante do problema.

O acesso universal ao diagnóstico ainda não é uma realidade para a sociedade. Mesmo em países com rendimentos elevados, com sistemas de saúde sólidos e, no geral, com bom acesso a testes de diagnóstico, existem bolsas de desigualdade. Esta situação é causada por variações na capacidade e no financiamento de serviços de saúde locais e por lacunas no rendimento familiar entre estes países e regiões. O acesso às mais recentes tecnologias de diagnóstico é particularmente problemática nos países de baixos e médios rendimentos devido às fragilidades dos sistemas de saúde e aos recursos limitados, o que dá origem a desigualdades de saúde mais extremas1.

Apesar destes desafios, a inovação no domínio dos testes de diagnóstico, como a tecnologia da informação e exames à cabeceira do doente, tem um enorme potencial para melhorar a capacidade dos países – para gerir doenças infecciosas e não transmissíveis e reforçar os cuidados de saúde primários2. No entanto, estas inovações apenas conseguem produzir resultados positivos para os doentes se os ambientes socioeconómicos, políticos e epidemiológicos locais forem devidamente considerados. É por isso que a compreensão do ecossistema no qual uma tecnologia é introduzida é destacada como uma prática fundamental nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre as intervenções digitais para o reforço do sistema de saúde. Ao mesmo tempo, a OMS recomenda a conceção de tecnologias com e para o utilizador, a conceção em escala e a construção para a sustentabilidade, mantendo em simultâneo uma abordagem colaborativa3.

Como já foi salientado, continuam a existir muitas «falhas de equidade» no acesso aos testes de diagnósticos entre os países com os rendimentos mais elevados do mundo e aqueles com os rendimentos mais baixos, onde vastos grupos populacionais ainda não têm igual acesso a estas ferramentas.

À medida que os testes de diagnóstico ganham reconhecimento como um componente essencial de sistemas de saúde eficazes, o desafio para os decisores nos países de baixos e médios rendimentos é perceber como oferecer às suas populações acesso igualitário às mais recentes tecnologias disponíveis. As parcerias público-privadas inovadoras podem ajudar a colmatar esta falha. Estas juntam parceiros da indústria dos testes de diagnóstico com agências internacionais, organizações não governamentais e governos.

As «parcerias de fornecimento de testes de diagnóstico» estão a demonstrar soluções úteis para as pessoas nos países com baixos rendimentos, por exemplo:

  • Criar capacidade entre as equipas dos laboratórios

  • Programas comunitários de sensibilização para as doenças sobre o valor dos exames de diagnóstico, para uma deteção precoce, confirmação de um diagnóstico e gestão de uma doença

  • Formação de profissionais de saúde

  • Recomendações para melhorar a eficiência laboratorial e o acesso a ferramentas de diagnóstico digitais

  • Inovação contínua para tornar as ferramentas de diagnóstico economicamente eficientes e mais fáceis de usar e transferir para os laboratórios.

Neste contexto, o objetivo é apoiar os países no desenvolvimento de uma cultura de prática de diagnóstico e um programa nacional sólido que associa o rastreio e os exames a pessoas que vivem com várias doenças. Por exemplo, os programas atualmente em curso estão a ajudar os países a aceder às tecnologias de diagnóstico como defesa de primeira linha para reforçar a capacidade dos seus serviços de saúde para proporcionarem uma gestão de melhor qualidade para as pessoas que vivem com VIH/SIDA, tuberculose, hepatite B e C, vírus do papiloma humano/cancro do colo do útero e COVID-19.

Quando a COVID-19 atingiu a África Austral, os líderes dos serviços de saúde da Zâmbia sabiam que tinham de responder rapidamente para proteger a população. Sabiam também que o desenvolvimento de ferramentas e processos de testes da COVID-19 a partir do zero levaria demasiado tempo e exigiria mais fundos do que aqueles que estavam disponíveis no momento. A estratégia inovadora de resposta rápida do país consistiu em reutilizar as ferramentas bem estabelecidas dos testes da carga viral do VIH do país para realizar diagnósticos de coronavírus4.

Yoram Siame, Chefe de Planeamento e Desenvolvimento da Representatividade de Doentes, na Churches Health Association na Zâmbia, explica que o Fundo Global de Luta contra o VIH/SIDA, Tuberculose e Malária foi um dos primeiros a reconhecer a necessidade de flexibilidade – e apoiou o país na reorientação de alguns dos programas e plataformas de exames para combater a COVID-19. Este foi um passo importante, afirma, se não tivessem enfrentado a COVID-19 quando esta surgiu, arriscavam perder o que se tinha sido conquistado na última década nos países africanos na luta contra a tuberculose, malária e VIH.

Afirma que a última década de investimento do Fundo Global na SIDA, na tuberculose e na malária se centrou no reforço dos sistemas de saúde dos países parceiros. «Esta experiência significou que o nosso sistema de saúde estava mais bem preparado para responder à COVID-19 e para implementar os testes de diagnóstico e a gestão da doença. Os nossos serviços de saúde rapidamente redirecionaram alguns dos serviços e infraestruturas de testes de VIH para lidar com a pandemia.»

Foi aplicada uma abordagem semelhante noutros países africanos, resultando no teste para a COVID-19 de mais de 26 milhões de pessoas até dezembro de 2020.

Em fevereiro de 2020, a OMS e a Foundation for Innovative New Diagnostics (FIND) assinaram um acordo de colaboração estratégica de cinco anos para reforçar o diagnóstico em países de baixos e médios rendimentos, colmatando as falhas de diagnóstico a nível nacional e reforçando a vigilância das doenças5. Esta parceria contribui de forma significativa para a informação sobre as iniciativas de saúde pública e para a melhoria da preparação e resposta em caso de surto.

A iniciativa aumenta o acesso a testes de diagnóstico essenciais, desenvolve listas nacionais de testes de diagnóstico essenciais e recolhe dados para orientar o acesso universal a testes de diagnóstico essenciais. Também dá os primeiros passos na criação de uma aliança na área do diagnóstico orientada pelos países para um apoio a longo prazo e um foco contínuo na melhoria do acesso a testes de diagnóstico a nível global.

Mais de 463 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com diabetes6. Para manter a sua saúde, as pessoas que vivem com diabetes têm de ter em mente centenas de pontos de dados para tomar dezenas de decisões todos os dias. É muita responsabilidade. E pressão. Para disponibilizar às pessoas com diabetes as ferramentas e a confiança para navegarem pela complexidade da sua rotina terapêutica diária, uma jovem empresa austríaca de saúde digital lançou a primeira versão da sua aplicação de smartphone para a gestão da diabetes há 10 anos. Esta start-up de Viena transformou-se numa empresa global que faz parte do grupo Roche.

Hoje, a aplicação é utilizada por cerca de quatro milhões de utilizadores registados em 80 países7. Com esta ferramenta, os doentes recolhem todos os seus dados terapêuticos principais num único local. Ela também se liga a outros dispositivos – incluindo medidores de glucose, canetas inteligentes de insulina e aplicações de saúde – para que os utilizadores possam seguir continuamente a sua doença ou partilhar dados com os profissionais de saúde, se pretenderem.

Para alguém com VIH, os exames não terminam com o diagnóstico. É fundamental que, assim que uma pessoa obtenha o resultado positivo para o VIH, seja realizada uma monitorização regular da carga viral. No entanto, na África subsaariana e noutros países com recursos limitados, isto pode ser um verdadeiro desafio. Os doentes têm frequentemente de percorrer longas distâncias para obterem os resultados dos seus testes, o que pode levar à perda de um dia de salário ou à necessidade de organizar diferentes formas de acolhimento para as crianças.

Para tratar desse problema que as pessoas em toda a região enfrentam, a Roche fez uma parceria com doentes, profissionais de saúde, ministérios da saúde, universidades de investigação e laboratórios na África subsariana para desenvolver uma aplicação móvel que funciona até mesmo em smartphones básicos. Através da aplicação, os doentes podem agora receber rapidamente os seus resultados de teste para a monitorização da carga viral do VIH. A ferramenta também fornece aos doentes alertas de medicação e lembretes de consultas, conteúdo de formação direcionado e acompanhamento do progresso. Ao fornecer às pessoas um acesso fácil e útil aos dados, esta aplicação permite que os doentes tenham um papel ativo na gestão da sua saúde.

Referências:

  1. https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpubh.2021.659980/full. Consultado a 1 setembro 2022

  2. https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lancet/PIIS0140-6736(21)00673-5.pdf Consultado a 1 setembro 2022

  3. https://www.who.int/publications/i/item/9789241550505 Consultado a 1 setembro 2022

  4. https://www.roche.com/stories/fighting-pandemics Consultado a 1 setembro 2022

  5. https://www.who.int/news/item/10-02-2020-who-and-find-formalize-strategic-collaboration-to-drive-universal-access-to-essential-diagnostics Consultado a 1 setembro 2022

  6. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31518657/ Consultado a 1 setembro 2022

  7. https://www.cdc.gov/diabetes/managing/managing-blood-sugar/bloodglucosemonitoring.html Consultado a 1 setembro 2022

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