Os testes são a nossa salvaguarda enquanto não há tratamento ou vacina

Lidera o laboratório nacional de referência em saúde, uma instituição centenária habituada desde a origem a lidar com epidemias e com uma intervenção central também na atual situação pandémica. Fernando Almeida, presidente do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge é o nosso Convidado Especial.

Uma conversa centrada nos mecanismos de combate à pandemia e que passa também por uma mensagem de esperança para o Natal de 2020.

Melhorámos muito a nossa capacidade de testagem.  E o nosso projeto é duplicar a capacidade de testagem do SNS. Atualmente já temos 111 laboratórios de diagnóstico:  41 laboratórios no SNS,  41 privados e os restantes da Academia. E queremos continuar a aumentar a nossa capacidade de testagem.

Em março fazíamos no país, em média, 2.000 a 3.000 testes por dia. Neste momento fazemos 25 mil. Só no mês de outubro realizámos 800 mil testes. E ao todo já foram feitos 3,5 milhões de testes desde que começou a pandemia. A título de exemplo, chegámos a ter dias em que foram feitos 36 mil testes.

Além do próprio diagnóstico, o que conseguimos com os testes é diminuir o tempo para atuar para travar novas infeções, tentar interromper a cadeia de transmissão. É por isso que a testagem é importantíssima, para saber que medidas temos a tomar.

A testagem é importantíssima para nos dar uma resposta e sobretudo para apontar um caminho.

O trabalho de testagem é também uma das formas que temos ao nosso alcance para tentar diminuir a incidência de novos casos, quebrando cadeias de transmissão.

Sem vacina ou tratamento para a Covid-19, o trabalho de testagem é uma salvaguarda e uma arma essencial de controlo.

Sou defensor do ‘testar, testar, testar...mas com critério’. Temos de retirar o conceito de fazer testes sem critério, mudando para o conceito de testes com critério. Nalguns casos, gastamos recursos e trabalho e estamos a criar falsas esperanças às pessoas. Preconizo que se deve testar, testar muito, mas com critérios clínicos e em circunstâncias epidemiológicas que têm de estar bem definidas e desenhadas.

Porventura nunca foi tão importante esta área, nem tão determinante, ou nunca estivemos ou nos sentimos tão dependentes do laboratório.

O conceito de diagnóstico a partir da Covid levou um abanão em todos os sentidos.

De uma forma genérica, não nos centrando na Covid, quase 80% dos diagnósticos feitos são baseados em diagnóstico de laboratório. E isso tem sido valorizado como arma fundamental para um clínico, a par com outras como a do medicamento.

Tem havido sempre uma grande colaboração, sentido de dever cívico por parte dos vários parceiros nesta área. É de enaltecer a relação que se tem estabelecidos com os laboratórios de análises e também com os fornecedores.

Às vezes é nas alturas de grande dificuldade que manifestamos o nosso espírito de solidariedade.

Sinto uma gratidão pelo exemplo e trabalho que todos os profissionais de saúde têm feito. Seja nos hospitais, nos centros de saúde ou nos laboratórios. Além da gratidão, penso que é importante dizer que devemos estar prontos para duas palavras: resiliência e capacitação. Não tem sido fácil, trabalha-se sem parar e há cansaço. Mas nas dificuldades encontramos forças e temos de ter esperança, porque esta situação não vai durar para sempre.

Essa é a pergunta para um milhão de dólares. Gostaria muito de poder já dizer que vamos ter Natal.

Sou um otimista realista. Se fizermos um pequeno esforço, penso que teremos condições de celebrar o Natal mais descansados do que estamos hoje.

Temos todos de cumprir a nossa parte, porque estamos perante uma doença que apela ao nosso civismo, ao nosso respeito pelo outro.

Há que alterar comportamentos, porque não são só as medidas legislativas, que são necessárias, que farão alterar a situação.

O vírus não existe sozinho, só existe se houver alguém que o transporte. Cortando esse mecanismo de transporte, o vírus desaparece. Temos de usar todas as medidas (lavagem de mãos, distanciamento, etiqueta respiratória, uso de máscara), para evitar esse transporte.

Só cumprindo estas medidas é que conseguimos ter esperança de ter um Natal em família.


Revejaa primeira parte da entrevista a Fernando Almeida.

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