No mês de sensibilização para o cancro do pulmão, que se assinala em novembro, fomos ouvir António Araújo sobre os principais desafios que identifica no diagnóstico e tratamento do Cancro do Pulmão, em Portugal.
Diretor do Serviço de Oncologia Médica da ULS Santo António, Professor Catedrático no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, António Araújo é um reconhecido especialista na área do cancro do pulmão. Assegurar a deteção precoce deste tipo de cancro é um pilar fundamental, que poderá ajudar a fazer a diferença na resposta que o sistema de saúde português dá, atualmente, às pessoas com cancro do pulmão. Um dos tipos de cancro mais frequente em todo o Mundo e o responsável pelo maior número de mortes por cancro.
Porque o rastreio salva vidas, pois consegue detectar precocemente o cancro do pulmão. Os estudos demonstram uma redução da mortalidade relacionada com o cancro do pulmão em cerca de 20%. Por outro lado, ao diagnosticar mais precocemente a doença, reduzimos os custos para a sociedade, pois diminui o número de doentes que vai necessitar de tratamentos sistémicos dispendiosos.
Em Portugal já existe um projeto-piloto completamente elaborado, que foi desenvolvido pela Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta contra o Cancro do Pulmão. Existe, ainda, publicado um estudo de custo-efectividade e que demonstra que o rastreio de cancro do pulmão é custo-efectivo. Assim, o fundamental é haver vontade política para o colocar em prática.
Quanto aos principais obstáculos prendem-se com a forma de recrutamento dos cidadãos com indicação para efetuar o rastreio (que necessita do envolvimento dos médicos de Medicina Geral e Familiar) e da necessidade de resposta em tempo útil dos serviços hospitalares (particularmente, da pneumologia, da radiologia de intervenção e da cirurgia torácica) aos cidadãos a quem foi diagnosticada uma alteração na TAC realizada. Os últimos obstáculos, que não serão o impedimento crucial à implementação do rastreio, referem-se à necessidade de financiamento e da criação de uma estrutura que seja responsável pela implementação prática do rastreio.
Como afirmei anteriormente, para os doentes e seus familiares, o principal benefício relaciona-se com a possibilidade de se diagnosticar precocemente esta doença, diminuindo a taxa de mortalidade (em cerca de 20%), reduzindo a necessidade de tratamentos sistémicos e dos seus efeitos laterais.
No que concerne à sociedade e ao sistema de saúde português, os benefícios relacionam-se com a poupança que o diagnóstico precoce acarreta, directamente pela redução dos gastos em medicamentos oncológicos muito caros e indirectamente por diminuir o número de doentes que deixarão de trabalhar e que necessitarão de reforma antecipada.
O principal tem a ver com o financiamento do rastreio e que poderia ser feito através de fundos europeus, que existem especificamente para este fim. Depois aproveitar a sinergia de quem já pensou seriamente no assunto, de quem desenvolveu um projecto-piloto, para constituir a estrutura necessária à organização administrativa e à sua implementação.