Para celebrar o Dia Internacional da Anatomia Patológica, a 13 de novembro, a Roche entrevistou Carla Bartosch, recentemente eleita presidente da Sociedade Portuguesa de Anatomia Patológica.
Na entrevista, Carla Bartosch destaca os principais desafios e oportunidades de uma especialidade essencial, cujo trabalho, desenvolvido nos "bastidores" dos hospitais, permanece invisível para a maioria das pessoas, mas é "fundamental no circuito clínico de uma grande maioria de doentes."
Em Portugal, tal como em todo o mundo, a anatomia patológica é uma especialidade médica fundamental para o diagnóstico e definição de prognóstico de inúmeras doenças, das quais podemos salientar o cancro.
Os patologistas analisam amostras de biópsias e peças cirúrgicas para identificar o tipo e o estadio dos tumores, fornecendo informações essenciais para a definição do tratamento adequado. Mais ainda, com base em biomarcadores e características moleculares, ajudam a personalizar as terapêuticas, aumentando a eficácia e melhorando o prognóstico dos doentes.
Assim, podemos dizer que a anatomia patológica é uma especialidade cujo trabalho, embora não seja visível, dado que se desenrola nos “bastidores” dos hospitais, é fundamental no circuito clínico de uma grande maioria de doentes.
Diria que existem dois grandes desafios, atualmente, para a anatomia patológica.
Um deles é a necessidade de formação de mais médicos anatomopatologistas. O volume de cuidados de saúde prestados às populações em Portugal tem aumentado consistentemente nas últimas décadas e este aumento de consultas, sessões de hospital de dia ou cirurgias, traduz-se também num aumento de volume de trabalho para os Serviços de Anatomia Patológica. Para que estes possam dar uma resposta atempada e de qualidade, é fundamental a formação de novos especialistas. A nível nacional somos cerca de 340 médicos, em que quase metade estão acima de 60 anos.
Outro desafio considerável é a saída de médicos especialistas do SNS para hospitais e laboratórios privados. Este problema, que afeta muitas especialidades como a Ginecologia-Obstetrícia ou a Radiologia, afeta também a anatomia patológica, desfalcando muitos serviços do SNS por falta de atractibilidade remuneratória ou da carreira profissional. Esperamos que a tutela da Saúde esteja atenta a este problema que se tem agravado nos últimos anos.
Felizmente as oportunidades e as possibilidades de desenvolvimento da nossa especialidade são inúmeras, tão desafiantes como promissoras para o tratamento dos doentes. Destacaria duas.
Por um lado, a inteligência artificial, que veio para ficar em tantas áreas da nossa vida, tem-se também desenvolvido enormemente na área da Saúde e da anatomia patológica em particular. A adoção da patologia digital permite utilizar algoritmos de inteligência artificial que podem ajudar o médico anatomopatologista a identificar neoplasias, classificá-las ou graduá-las, por exemplo. Tudo isto traz um imenso potencial para aumentar a eficiência do trabalho nos Serviços mas, acima de tudo, diminuir a possibilidade de erros e aumentar a segurança dos cuidados que prestamos aos nossos doentes.
Por outro lado, a investigação em anatomia patológica tem crescido imenso nos últimos anos e tem ainda um enorme potencial de crescimento. A descoberta de novas moléculas existentes nas células, por exemplo de tumores, que podem melhorar a nossa avaliação do prognóstico dos doentes, podem também torná-las alvo para a descoberta de novos fármacos que revolucionaram o tratamento do cancro nas últimas duas décadas. Neste tipo de investigação, os anatomopatologistas são absolutamente essenciais.
Acima de tudo, queremos dar visibilidade à nossa especialidade, mostrando que tem um papel fundamental nos cuidados de saúde prestados às populações, apesar de poder passar despercebida num grande hospital, por ter pouco contacto direto com os doentes.
Todos os profissionais de saúde da anatomia patológica, sejam médicos ou técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica, garantem diariamente, nos Hospitais de todo o país, uma anatomia patológica de qualidade, sem a qual o tratamento dos nossos doentes não seria possível.
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