A sua organização está a sobre ou a subutilizar os testes laboratoriais?

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Líderes de laboratório colaboradores: Michael Laposata, MD, PhD

  • A utilização incorrecta de testes e recursos laboratoriais desperdiça milhares de milhões de dólares todos os anos.

  • A subutilização pode levar a um diagnóstico tardio ou falhado, o que pode ter consequências potencialmente fatais.

  • Estima-se que 70% das decisões que afetam o diagnóstico ou o tratamento envolvem testes de laboratório.

Pedir os testes laboratoriais certos no momento certo é um componente crucial do atendimento ao doente, essencial para alcançar diagnósticos precisos e acelerar o acesso ao tratamento. Mas se os prestadores não tiverem o conhecimento necessário para requisitar os testes laboratoriais mais apropriados em qualquer cenário, os doentes e as organizações de saúde podem enfrentar sérias consequências.

A utilização indevida dos testes resulta em milhares de milhões de dólares desperdiçados a cada ano no sistema de saúde, sem mencionar inúmeros erros de diagnóstico. Com o Ministério da Saúde e outros invervenientes a procurarem continuamente formas de reduzir custos, cabe às organizações procurar maneiras novas e inovadoras de demonstrar prudência financeira. Incentivar uma melhor comunicação e colaboração entre os técnicos de laboratório e os médicos que efetuam a requisição mantém o potencial de melhoria do atendimento aos utentes e, ao mesmo tempo, economia do tempo e dinheiro das organizações.

O Dr. Michael Laposata, professor e presidente do departamento de patologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas em Galveston, partilha as suas opiniões sobre questões relacionadas com os testes laboratoriais e como a colaboração pode fornecer uma solução para o problema em questão.

Vários estudos sugerem que a subutilização dos testes laboratoriais acontece de forma muito mais regular do que a utilização em excesso. Quando os prestadores se esforçam por decidir os testes que devem realmente ser requisitados para cada doente , geralmente acabam por errar por precaução, subutilizando os suportes disponíveis. Isto, por sua vez, pode impedir que os doentes tenham acesso rápido aos tratamentos de que possam necessitar.

Três artigos indicam que a subutilização ocorre em aproximadamente 55% dos casos com complexidade maior que a de baixo nível, enquanto a utilização em excesso ocorre em pelo menos 25% dos doentes”, afirma o Dr. Michael Laposata.

Um estudo de 2003 publicado no New England Journal of Medicine1 descobriu que os testes de diagnóstico são subutilizados 45,1% das vezes; em estreita concordância, um estudo de Harvard de 20132 indicou 44,8%. Enquanto a subutilização dos testes laboratoriais ocorre com maior frequência do que a utilização em excesso, o Dr. Laposata afirma que pode ser mais difícil de medir em termos financeiros.

“Não é particularmente difícil quantificar o dinheiro gasto com a utilização em excesso de testes laboratoriais — pode-se somar os dólares gastos realizando os testes desnecessários”, explicou. “Relativamente à subutilização, porém, é difícil saber quanto dinheiro poderia ter sido gasto se o doente fosse diagnosticado e tratado mais cedo. Embora as estimativas de custo de subutilização sejam especulativas por natureza, é muito mais provável que sejam superiores aos custos da utilização em excesso.”

Os testes laboratoriais podem ser utilizados em excesso ou subutilizados em muitos casos diferentes, mas certas condições de saúde tendem a ser mais frequentemente associadas a testes inadequados. Os médicos muitas vezes requisitam hemogramas completos e painéis metabólicos básicos e complexos para quase todos os doentes que requerem qualquer tipo de avaliação de diagnóstico, mesmo que esses testes nem sempre sejam necessários ou úteis para um diagnóstico.

“Quanto mais complexo o caso, mais provável é que os médicos responsáveis falhem o teste necessário para estabelecer o diagnóstico correto, ou requisitem os testes necessários juntamente com muitos outros que são desnecessários”, afirma o Dr. Laposata. “Um exemplo normalmente citado de subutilização envolve o diagnóstico da embolia pulmonar. Este é um diagnóstico frequentemente falhado; o teste inicial de D-dímero muitas vezes não é realizado, quando o doente poderia ter sido diagnosticado com uma embolia pulmonar se os resultados do teste fossem positivos. As consequências neste caso podem incluir embolia pulmonar recorrente, hipertensão pulmonar permanente ou morte.”

Outros testes laboratoriais, que muitas vezes podem ser subutilizados, envolvem a hormona estimuladora da tiróide, hemoglobina A1c, e testes usados para fins de monitorização terapêutica de fármacos.3

As organizações colocam-se em risco de possíveis efeitos financeiros decorrentes da utilização indevida de testes laboratoriais, mas é a vida dos doentes que fica em risco. É importante salientar que muitos médicos e praticamente todos os doentes desconhecem este facto.

Os efeitos nocivos da utilização em excesso incluem o dinheiro desperdiçado em testes desnecessários e testes de acompanhamento quando um teste desnecessário é anómalo, levando a um teste adicional ou um procedimento adicional”, explica o Dr. Laposata. “Existe um custo adicional desconhecido associado à utilização em excesso porque muitos testes realmente necessários são atrasados. O impacto desse atraso depende dos testes atrasados específicos e da extensão do atraso, que provavelmente varia cada vez que ocorre. Assim, é extremamente difícil de medir.”

A subutilização, por outro lado, pode levar a um diagnóstico atrasado ou desconsiderado, às vezes com resultados potencialmente fatais.

“É impossível saber quanto mais foi gasto quando um teste essencial não foi requisitado porque não existe forma de fazer uma comparação”, continua o Dr. Laposata. “As especulações dos custos estimam aproximadamente o impacto financeiro da subutilização.

No entanto, sabemos com um grau muito melhor de certeza que os diagnósticos atrasados e desconsiderados resultam em pelo menos 64.000 mortes nos EUA anualmente. Essa enorme perda de vidas e a maior morbidade associada a erros de diagnóstico deveriam permitir o desenvolvimento de equipas de especialistas em diagnóstico, mesmo que os dólares exatos desperdiçados não possam ser determinados.”

Apesar da sua extensa formação médica, muitos prestadores ainda consideram os menus dos testes laboratoriais avassaladores e confusos. Por essa razão, muitas vezes requisitam testes que são desnecessários ou negligenciam a requisição dos que são necessários, criando uma oportunidade para os técnicos de laboratório intervirem e fornecerem orientação.

“Os técnicos de laboratório têm uma voz que pode ajudar os médicos que fazem requisições a determinar os testes certos no momento certo”, diz o Dr. Laposata. “Muitos técnicos de laboratório conhecem bem os testes corretos que devem ser requisitados para um diagnóstico específico. Os cientistas dos laboratórios clínicos podem interromper uma avaliação e debater com o médico, apontando os testes necessários que podem estar em falta e excluindo os testes desnecessários na requisição.”

As estatísticas estimam que 70% de todas as decisões relacionadas com a saúde que afetam os diagnósticos ou o tratamento envolvem testes de laboratório, o que reforça o valor do papel do laboratório na obtenção de uma avaliação precisa da condição do doente.4 Derrubar as barreiras entre prestadores, administradores e técnicos de laboratório parece ser um passo lógico na promoção dos esforços mais colaborativos para melhorar o tratamento dos doentese salvar vidas.

A formação de uma equipa de gestão de diagnóstico (DMT, Diagnostic Management Team) na sua organização pode ajudar a resolver problemas de utilização em excesso e subutilização de testes laboratoriais. Por definição, as DMT são grupos de especialistas médicos de diferentes especialidades que se reúnem regularmente para avaliar casos atuais e fornecer um relatório escrito de fácil compreensão que se torna parte do registo médico do doente. Entre outras funções, as DMT recomendam apenas as opções de teste mais apropriadas. Para obter as decisões mais significativas sobre a ocorrência de utilização em excesso ou subutilização, os especialistas em DMT devem tirar conclusões sobre casos individuais num contexto clínico e em tempo real. Uma reunião da DMT fornece uma configuração ideal para que esses debates ocorram.

“Para além dos técnicos de laboratório, os especialistas da equipa de gestão de diagnóstico podem fornecer recomendações oportunas e orientadas por especialistas sobre a seleção de testes e a interpretação dos resultados”, acrescenta o Dr. Laposata. “No entanto, o hospital deve fornecer o apoio necessário para permitir que essas reuniões ocorram e promover o acesso aos especialistas, seja dentro das suas próprias instituições ou a prestadores de cuidados de saúde fora das suas instituições que precisam de especialistas a nível da DMT, mas não têm.”

Iniciativas adicionais que os laboratórios e as DMT podem considerar para reduzir as ineficiências da requisição de testes laboratoriais incluem a examinação de protocolos para identificar pontos fortes e pontos fracos e a colaboração com os médicos para fornecer informações sobre a utilização apropriada dos testes.

References

  1. McGlynn EA, et al. N Engl J Med.2003;348[26]:2635-2645). https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMsa022615

  2. Zhi M, Ding EL, Theisen-Toupal J, Whelan J, Arnaout R (2013) The Landscape of Inappropriate Laboratory Testing: A 15-Year Meta-Analysis. PLoS ONE 8(11): e78962. https://doi.org/10.1371/journaLpone.0078962

  3. http://captodayonline.com/sin-of-omissions-when-tests-fly-under-the-radar-2/

  4. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK338589/

Autor

MD, PhD

Professor e Presidente do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Texas em Galveston

NP-PT-00238 | Abril 2025
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