
Biomarcadores: qual o impacto no diagnóstico da doença de Alzheimer?
Podem os indicadores biológicos do nosso corpo ajudar a mudar o panorama da Doença de Alzheimer?
O que é um biomarcador?
Os biomarcadores (diminuitivo para “marcadores biológicos”) são elementos do corpo que podem ser medidos de maneira objetiva1 – e podem ser de vários tipos, por exemplo, a temperatura corporal ou a pressão sanguínea.
Os biomarcadores têm um papel crucial na investigação clínica, no diagnóstico da doença e no tratamento pois: 2

- ajudam os cientistas a perceber como as doenças afetam o corpo e a avaliar a eficácia e a segurança dos medicamentos.

- fornecem aos médicos informações vitais para o diagnóstico e permitem gerir as condições de saúde do doente de forma mais eficiente.
Porque são os biomarcadores importantes na doença de Alzheimer (DA)?
A Doença de Alzheimer (DA) é uma doença bastante complexa. No entanto, quanto mais aprendemos sobre os biomarcadores da DA, mais a nossa compreensão da doença aumenta: como podemos diagnosticá-la de forma precisa e geri-la.
Embora os biomarcadores para confirmar a DA ainda não sejam usados na prática clínica como rotina3, já têm um papel importante na investigação.4 Médicos e cientistas estão entusiasmados com o potencial impacto dos biomarcadores da DA na melhoria da qualidade do cuidado para indivíduos com DA.
Por exemplo, espera-se que os biomarcadores possam ajudar com:
Quais os biomarcadores que podem ser usados para diagnosticar DA?
Existem vários biomarcadores para a DA, sendo que a lista continua a crescer em paralelo com o nosso conhecimento da doença. Duas das principais, e precoces, características da DA são as “placas” e “Os emaranhados” que se desenvolvem no cérebro, causados pela acumulação de certas proteínas. Os biomarcadores já estabelecidos medem de forma precisa essas proteínas e fornecem auxílio no diagnóstico de DA.12
Como são atualmente testados estes biomarcadores?
Atualmente, existem duas formas principais de medir biomarcadores da DA:

Técnicas de imagem cerebral (“scan”)
Existem diferentes tipos de scans cerebrais – desde scans de TC
(tomografia computorizada) e RM (ressonância magnética) aos mais sofisticados scans de PET
(tomografia de emissão de positrões).
Na Doença de Alzheimer, scans de PET permitem-nos ver se existem placas beta-amilóide ou formação de emaranhados de tau no cérebro, ou ainda medir o crescimento das placas e dos emaranhados desde o scan anterior.2
Embora os scans cerebrais tenham várias vantagens, estes podem ser caros e demorados para quem os faça.16 Alguns deles são minimamente invasivos, e outros têm um muito pequeno risco associado de exposição a radiação.17 Ou seja, esta forma de teste pode não ser a ferramenta mais prática para ser amplamente disseminada.16

Teste ao líquido cefalorraquidiano
O líquido cefalorraquidiano (LCR) é um fluído claro, aguado, que envolve o cérebro e a medula espinhal.
Acredita-se que a acumulação das placas beta-amilóide e os emaranhados tau no cérebro alteram a quantidade dessas proteínas no LCR.14 Ao testar os níveis das proteinas beta-amilóide e tau no LCR, podemos perceber se a DA está a desenvolver-se no cérebro.
Uma amostra de LCR é colhida da parte inferior das costas de um indivíduo usando uma agulha especial18, através de um procedimento que é semelhante ao de uma anestesia espinhal (epidural) durante o parto.
Se for feito por um profissonal de saúde, o risco associado a este procedimento é mínimo; os efeitos secundários mais comuns são dores de cabeça e dores nas costas.18
Como podem os biomarcadores auxiliar num diagnóstico atempado no futuro?

Uma das prioridades dos cientistas que trabalham na DA é desenvolver testes sanguíneos rápidos, menos invasivos e amplamente acessíveis para medir os biomarcadores da DA.
Com um teste sanguíneo, existe o potencial de testar para a Doença de Alzheimer numa escala muito maior. Inicialmente, poderá permitir aos médicos dos cuidados de saúde primários (e.g. medicina geral e familiar) determinar se a DA pode ser uma causa para os sintomas do indivíduo – e referenciá-los para um especialista para fazer mais testes de forma a confirmar o diagnóstico. No futuro, poderá até auxiliar o screening para DA antes dos sintomas aparecerem.
Graças à colaboração entre académicos, institutos de investigação e parceiros da indústria à volta do mundo, vão-se verificando progressos significativos em direção a esse objetivo.
Juntamente com a comunidade, continuaremos a expandir o conhecimento científico na DA e outras doenças neurológicas e a encontrar melhores formas de diagnosticar, monitorizar e tratar estas doenças. Ao juntar estas peças, esperamos criar um amanhã onde as doenças neurológicas já não limitam o potencial humano – para ajudar a preservar o que faz de nós quem somos.
Referências
1. Food and Drug Administration. What Are Biomarkers and Why Are They Important? Transcript [Internet; cited 2020 June 17]. Available from: https://www.fda.gov/drugs/cder-biomarker-qualification-program/what-are-biomarkers-and-why-are-they-important-transcript.
2. Alzheimer’s Drug Discovery Foundation. Alzheimer’s Biomarkers, Explained. [Internet; cited 2020 June 17]. Available from: https://www.alzdiscovery.org/news-room/blog/alzheimers-biomarkers-explained. Khoury R, Ghossoub, E. Diagnostic biomarkers of Alzheimer’s disease: A state-of-the-art review. Biomark.
3. Khoury R, Ghossoub, E. Diagnostic biomarkers of Alzheimer’s disease: A state-of-the-art review. Biomark. Neuropsychiatry. 2019;1(100005):1-6.
4. Cummings J. The Role of Biomarkers in Alzheimer’s Disease Drug Development. Adv Exp Med Biol. 2019;1118: 29–61.
5. National Institute on Aging. How Is Alzheimer's Disease Diagnosed? [Internet; cited 2020 June 17]. Available from: https://www.nia.nih.gov/health/how-alzheimers-disease-diagnosed.
6. Bogdanovic, N. The Challenges of Diagnosis in Alzheimer’s Disease. US Neurology. 2018;14(1):15-16.
7. Humpel C. Identifying and Validating Biomarkers for Alzheimer's Disease. Trends Biotechnol. 2011;29(1):26-32.
8. Jack CR Jr, et al. NIA-AA Research Framework: Toward a Biological Definition of Alzheimer's Disease. Alzheimers Dement. 2018;14(4):535-562.
9. Wu L, Rosa-Neto P, Gauthier S. Use of biomarkers in clinical trials of Alzheimer disease: from concept to application. Mol Diagn Ther. 2011;15:313-25.
10. Blennow K, Zetterberg H, Fagan AM. Fluid biomarkers in Alzheimer disease. Cold Spring Harb Perspect Med 2012;2(9):1-23.
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12. Clifford R Jack Jr, MD, David S Knopman, MD, et al. Hypothetical model of dynamic biomarkers of the Alzheimer's pathological cascade. Lancet Neurol 2010; 9:119-28.
13. BrightFocus Foundation. Amyloid Plaques and Neurofibrillary Tangles. [Internet; cited 2020 June 17]. Available from: https://www.brightfocus.org/alzheimers/infographic/amyloid-plaques-and-neurofibrillary-tangles.
14. National Institute on Aging. What Happens to the Brain in Alzheimer’s disease? [Internet; cited 2020 June 17]. Available from: https://www.nia.nih.gov/health/what-happens-brain-alzheimers-disease.
15. Mandelkow EM, Mandelkow E. Biochemistry and Cell Biology of Tau Protein in Neurofibrillary Degeneration. Cold Spring Harb Perspect Med. 2012; 2(7):1-25.
16. Wittenberg R et al. Economic impacts of introducing diagnostics for mild cognitive impairment Alzheimer's disease patients. Alzheimers Dement (N Y). 2019; 5: 382–387.
17. NHS. PET scan. [Internet; cited 2020 June 29]. Available from: https://www.nhs.uk/conditions/pet-scan/.
18. Alzheimer’s Society. Having a lumbar puncture. [Internet; cited 2020 June 17]. Available from: https://www.alzheimers.org.uk/research/take-part-research/lumbar-puncture.