
Cidadãos devem participar na avaliação dos hospitais que os servem
Como podemos imaginar os nossos hospitais dentro de cinco anos?
Mais próximos das pessoas, das necessidades concretas dos utentes e das comunidades onde estão inseridos.
Este é o caminho defendido pelo presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), Alexandre Lourenço.
A propósito da 9ª Conferência de Valor APAH, que decorre entre 25 e 28 de maio, Alexandre Lourenço advoga que, num futuro próximo, os cidadãos participem na avaliação qualitativa dos hospitais.
“Precisamos de uma evolução do nosso modelo de hospital. É essencial cumprir a missão conferida pelo Ministério da Saúde e cumprir os objetivos determinados pelas Finanças. Mas o hospital tem de procurar responder às necessidades da comunidade em que se insere. Este ponto é difícil e complexo, mas precisamos de fazer este caminho. Para que, daqui a cinco anos, tenhamos hospitais próximos das pessoas e centrados nas necessidades de quem servem”.
É então necessário assegurar que as unidades hospitalares são avaliadas também pela comunidade: “É importante que se garanta que, num futuro próximo, exista uma participação ativa das comunidades na avaliação e supervisão dos hospitais. Quando falamos em comunidades, referimo-nos aos doentes, aos profissionais dos hospitais, à Academia, às autarquias….”
Afinal, os hospitais são parte integrante do dia-a-dia de uma comunidade e não devem isolar-se. Têm a obrigação também de contribuir para o desenvolvimento da sua região.
Obviamente que, a esta avaliação comunitária, se terá de juntar a avaliação económico-financeira dos Ministérios das Finanças e da Saúde. O presidente da APAH insiste na necessidade de uma maior autonomia dos hospitais, em conjunto com uma responsabilização dos seus conselhos de administração.
Isso só é possível com indicadores concretos de avaliação de desempenho e com consequências concretas dessa avaliação.
Pandemia veio demonstrar que a autonomia dos hospitais é essencial
Para Alexandre Lourenço, uma das medidas mais importantes que o Ministério da Saúde tomou no quadro pandémico foi a de aumentar a autonomia dos hospitais, logo em fevereiro de 2020.
“Sem essa autonomia, a resposta à pandemia teria sido bastante diferente. Ficou demonstrado que é essencial dotar os hospitais de autonomia para conseguirem resolver os problemas do quotidiano. Não se pode esperar nove meses para contratar um profissional de saúde necessário ou para lançar um concurso para qualquer coisa premente”.
Evolução do modelo de financiamento
O projeto 3F como ponto de viragem
A forma como os sistemas de saúde financiam os hospitais é outra das matérias que tem de evoluir. Atualmente, o modelo de financiamento está muito centrado na quantidade ou no volume de cuidados de saúde prestados. No fundo, medindo consultas, cirurgias, exames ou qualquer procedimento.
“Não estamos a ter grandes resultados com esta forma de financiamento. Existe já hoje muito conhecimento que demonstra que devemos evoluir para uma forma de financiamento com base em resultados em saúde concretos, com base na diferença que fazemos efetivamente na e para a saúde das pessoas que procuram os hospitais. O objetivo não deve ser fazer X cirurgias ou sessões terapêuticas, mas antes ter uma análise concreta sobre os resultados em cada doente”.
Neste âmbito, Alexandre Lourenço encara o projeto 3F -Financiamento, Fórmula para o Futuro como uma viragem no que se tem feito neste domínio: “É o caminho certo para ter resultados de saúde centrados realmente no doente”.
O 3F é uma iniciativa da APAH, com o apoio da Roche e desenvolvimento IQVIA, que começou a ser desenvolvida em 2018 e que envolve ações concretas e projetos pilotos para testar soluções de financiamento que permitam criar valor para os doentes.
Um dos projetos piloto, o projeto FAROL, foi desenvolvido no Instituto Português de Oncologia do Porto e centrou-se no cancro do pulmão, medindo os resultados em saúde, tanto a nível clínico como os relativos à experiência do doente.
Um dos objetivos é determinar o custo real de tratamento. Além disso, o projeto pretende contribuir para o desenvolvimento de um modelo de financiamento centrado na medição de resultados com incentivos associados à qualidade.
Para lá dos custos globais com a doença (tratamentos, consultas ou cirurgias), é importante saber a experiência do doente e o grau de satisfação com o percurso, os profissionais e a instituição.
O Polaris, o outro projeto piloto em desenvolvimento, foca-se na integração de cuidados e promoção de saúde na área do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro. Passa por medir e tentar resolver os problemas concretos dos utentes identificados.