Dia 21 de setembro assinala-se o Dia Mundial da Pessoa com Doença de Alzheimer. A este propósito, conversámos com a neurologista Ana Valverde, que se dedica há largos anos a esta área, e para quem é fulcral haver diagnóstico numa fase precoce.
“É pior não ter um diagnóstico do que ter um diagnóstico que é mau e que custa a receber. Com um diagnóstico, podemos adotar uma postura e tentar ultrapassar dificuldades. Até porque a própria atitude que o médico transmite perante um diagnóstico pode determinar o futuro do doente. E isto, numa doença degenerativa, é fundamental, quer para o doente, quer para a família”.
A especialista lembra ainda que demência e Doença de Alzheimer não são a mesma coisa. É essencial um diagnóstico diferenciado para o próprio doente, porque permite uma intervenção terapêutica mais adequada e também prepara o doente e a sua família para o futuro, para uma fase mais severa da doença.
“O diagnóstico distinto não é apenas um interesse académico. É diferente o tratamento da Doença de Alzheimer do tratamento de outro tipo de demências. E ter um diagnóstico quando a pessoa ainda está em plenas faculdades, permite tomar decisões que mais tarde serão difíceis. Não só decisões do ponto de vista ético, legal, mas também financeiro e familiar. Decisões importantes para o futuro da pessoa e do seu contexto familiar”.
Ana Valverde entende que o sistema de saúde ainda tem um longo caminho para fazer neste aspeto. Há meios para diagnóstico e há hospitais com serviços ou áreas dedicadas. Contudo, é crucial envolver os cuidados de saúde primários e os médicos de medicina geral e familiar.
“Os médicos de família são o primeiro contacto com o doente e têm de conhecer os pontos críticos que os alertem para a necessidade de encaminhar o doente para uma consulta de especialidade. Temos de aproveitar os cuidados de saúde primários e sensibilizar os médicos de família”.
A Doença de Alzheimer surge muito associada às falhas de memória, mas a patologia manifesta-se de muitas outras formas, incluindo problemas de socialização ou alterações de comportamento.
“É importante não desvalorizar sintomas e não etiquetar de modo automático determinados comportamentos ou sinais como sendo depressão ou ´’doenças da idade’.
A sociedade tem de ser habilitada para reconhecer e valorizar os primeiros sintomas, o que resultará decisivo para se chegar ao doente antes da manifestação de sintomas severos que incapacitam a própria pessoa”.
Não há ainda cura para a Doença de Alzheimer e para as outras demências. Mas falar em cura é diferente de falar em tratamento.
Ana Valverde sublinha que temos acesso a tratamentos dos quais não dispúnhamos há 10 anos:
"Aprendemos muitíssimo sobre os mecanismos da Doença de Alzheimer com a investigação que foi levada a cabo ao longo dos últimos anos, mesmo que algumas moléculas tenham revelado um aparente insucesso. Todos os ensaios desenvolvidos nos tempos mais recentes tiveram algum ganho no que respeita ao conhecimento da própria doença. E isto é a ciência. É assim que avançamos.
Os próprios ensaios que foram sendo desenvolvidos permitiram ter um conhecimento aprofundado dos mecanismos da doença, que levou a melhorias na capacidade de diagnóstico”.
Apesar do “bom caminho” que tem sido trilhado no desenvolvimento de novas moléculas ou fármacos, é necessário apostar em força no diagnóstico da Doença de Alzheimer.
Sobre a investigação clínica feita em Portugal, a neurologista entende que a indústria farmacêutica tem “sabido trabalhar muito bem” para incluir e envolver o país em projetos desafiantes e com valor.
“Ainda estamos no início de um caminho para ter tratamentos modificadores da doença. Mas se olhar para os últimos 10 anos, faço um balanço muito positivo”.
Alterações de comportamento, dificuldade de concentração, enfraquecimento de autonomia ou perda de memória são alguns dos sinais de alarme para uma doença que pode levar a um duríssimo desfecho: a perda de identidade.