Foram cerca de 900 milhões de crianças, em todo o mundo, que saíram um dia das aulas e, na manhã seguinte, não puderam voltar à escola, nem brincar com seus amigos, visitar os avós ou correr ao ar livre. Se controlar a ansiedade destas crianças se tornou um desafio para os pais, neste contexto de incertezas gerado pela pandemia, que turbilhão de emoções sentiram os próprios?

Compreender que o encerramento das escolas não significou estagnação da aprendizagem e que o isolamento não é estar de férias, implica a adoção de estratégias de adaptação a uma nova realidade! Participar em aulas, em trabalhos e projectos à distância, fora do contexto escolar e da proximidade dos colegas e professores, foi uma situação muito difícil para crianças e adolescentes, mas também para os Pais e Cuidadores.

Foi neste contexto que quisemos conhecer uma realidade muito próxima e perceber como é que as nossas crianças viveram esta divisão de espaço com os seus pais! Perceber como tem sido viver o dia a dia da Roche, as reuniões que passaram a fazer parte das rotinas, os colegas que, até então, só conheciam de nome!

Na impossibilidade de conseguirmos falar com todos, decidimos convidar um pequeno grupo para nos dar a sua visão sobre esta nova realidade. Não quisemos deixar passar a oportunidade de perceber como viam a posição da Roche neste mundo em mudança e foi com alguma satisfação que observámos unanimidade em relação à importância dada à Roche na área da saúde. Com alguma convicção e orgulho a afirmação é imediata “A Roche é uma empresa farmacêutica que produz medicamentos importantes, que salvam vidas”. E quando abordamos o contexto da Covid19, não há hesitação no reconhecimento do papel da Roche “A Roche teve um papel importante na ajuda ao controlo da pandemia, fornecendo materiais essenciais para este combate”.

Embora reconhecendo a importância do trabalho desenvolvido, as horas passadas pelos pais em frente ao computador não são vistas como algo positivo e de uma forma muito consciente e com uma nota de alguma tristeza, surge a afirmação: “Eu já tinha ideia do trabalho que a minha mãe tem na Roche. Sempre me pareceu muito exaustivo. Estar sempre a falar ou a escrever coisas no computador, não me parece muito saudável!”. Com uma maturidade muito própria, reconhecem que, embora necessárias, as reuniões foram e são parte integrante do trabalho diário, não escondendo o orgulho na dimensão global do trabalho dos pais “Durante estes meses, vi o meu pai em constantes reuniões, com colegas da Roche Amadora e de diversas partes do mundo!”

Por entre todas as reuniões, partilha de espaço, luta pela largura de banda, quisemos saber aquilo que consideraram mais difícil de ultrapassar e as opiniões dividiram-se. Se, por um lado, a maturidade e o peso da responsabilidade levou a uma resposta mais séria “Acompanhar a matéria das várias disciplinas foi complicado sem o apoio das aulas presenciais”; por outro, o brilho no olhar e a saudade daquilo que traz a verdadeira felicidade “Foi estar longe de tudo e de todos”; “Parar de sair e de ver toda a gente que via diariamente, passando a estar 24h por dia com a família.”

E quando pensamos que a pressa dos dias é algo que atrapalha e acreditamos que estas crianças estão mais felizes por não terem tantas solicitações, surge um desabafo emotivo que nos faz perceber a dimensão fria destes dias “Às vezes, não saber o que fazer, ficar sem fazer nada por algum tempo, não poder estar com os amigos e não falar com pessoas da minha idade. As saudades dos familiares e o medo de sair à rua!”

E embora tenhamos todos a certeza de que fizemos sempre o melhor que conseguimos, não há como fugir à pergunta mais difícil - Como é estar com os pais 24h por dia? E de uma forma muito franca, mas também cuidadosa, própria de quem gosta e não quer ferir sentimentos, lá nos foram confessando: “Estar com os pais 24h sobre 24h é muito difícil!”

Com um sorriso quase disfarçado “É suportável, mas, por vezes, também é cansativo”. E, como que querendo resumir a realidade humana, o desabafo sincero e até eloquente de quem já percebe um pouco como as emoções se processam “Quando estamos muito tempo com uma pessoa, podemos chocar mais, discutir mais por coisas mínimas. Também altera o humor. No caso da minha irmã, ela irrita-se mais e com mais facilidade, temos de ir alternando com quem estamos.”

Mas, também há um lado positivo: “por um lado pode ser divertido encontrarmos coisas novas para fazermos juntos, quando não temos aulas. Mas, muitas vezes, já não nos podemos ver, porque nos falta aquele tempo de pausa que, antigamente, tínhamos.”

No momento de compreender se tinham sentido o apoio dos pais nas actividades lectivas, as respostas seguras de quem já atingiu um patamar de independência que lhes permite só recorrer pontualmente ao apoio dos pais.

E quando questionados sobre a COVID 19, este vilão invisível que entrou nas nossas vidas e nos obrigou a um isolamento forçado, as respostas são muito mais intensas do que poderíamos estar à espera. Com a seriedade própria de quem já percebeu que não basta acreditar que tudo vai ficar bem “Aquilo que mais receio é o facto de as pessoas não perceberem a gravidade...Por isso, preocupa-me que muitos possam morrer por causa disso, só por terem demasiada confiança”

Com a preocupação presente, as respostas que nos mostram como o coração está bem presente nestas crianças“ A Covid19 veio para estragar o ano, é uma doença que tenho medo de apanhar, porque não quero contagiar os meus avós. O lado positivo, o facto de os países se unirem para procurar a cura!”

Numa geração habituada às mudanças de ritmo e à velocidade da tecnologia, a surpresa de algo que é inesperado e não dominamos “Considero que o vírus foi muito inesperado, ninguém estava à espera da dimensão que atingiu. Veio mudar o nosso quotidiano. Acho que, depois disto, a vida das pessoas vai mudar.” Querendo acreditar que tudo na vida tem um propósito, mas para o qual nem sempre estamos preparados “ Se por um lado teve um impacto positivo, porque obrigou o mundo a uma pausa, que era necessária; por outro, causou muitas mortes e obriga a muitos cuidados.”

Se fosse possível ter o poder de mudar o mundo e, amanhã, tivéssemos um medicamento ou uma vacina para a Covid19, qual seria o primeiro desejo?

Nesta altura os olhares e discursos, até agora mais sérios, transformam-se em expressões mais leves e até esperançosas “ Poder viajar para um país diferente ou estar uma semana sozinha com as minhas amigas!” 

Após vários meses fechados com as famílias, é com eles que gostariam de estar de forma mais livre e despreocupada “Ir de férias com a minha família, para o sítio onde vamos todos os anos, com os nossos amigos.”

“Viajar”

Num misto de sentimentos e com semblante ainda um pouco fechado, a vontade de que tudo passe e a vida regresse às mãos de quem ainda tem tantos projectos para concretizar “Gostava de tirar este stress dos meus ombros. Sair com os meus amigos para as festas que tínhamos planeado… Se eu soubesse que o verão passado era o último, tinha aproveitado muito mais!”

Com a certeza de que não podemos perder a esperança e temos de continuar a acreditar que tudo vai passar e o mundo se vai conseguir reinventar mais forte, mais solidário e, quem sabe, mais unido, temos de agradecer o generoso contributo da Alice, da Inês, da Carolina, do Afonso, do Miguel e da Francisca, sem os quais não teríamos conseguido construir mais esta história.